Na esquina da vida, onde a esperança é luxo
O menino aprende cedo a controlar o cartucho
O Sol da favela queima a pele mais não queima a alma
Mas o asfalto é quente e o futuro não acalma
Ele não sonhava em ser engenheiro ou talvez doutor
Mas sim ter a grana pra calar a boca do opressor
O mundo lá fora só ensina a se defender
A mão que te aponta o dedo na cara pronto para bater
O olheiro no alto do morro, com olhar de falcão
Não busca o futuro ligeiro na próxima ação
O rádio na mão, a mente sempre em rotação
Bipe no rádio tem viatura na contramão
A mãe que chora em casa sempre aperta o coração
As rua gritam alto a palavra é traição
Ele trocou a bola de gude pelo trinta e oito
A inocência se perdeu a vida não te dá desconto
O medo não existe adrenalina é um grão
Cada batimento cardíaco é um segundo da prisão
O garoto que via o mundo mágico de cores
Hoje só enxerga a escuridão, insônia, ódio, diversos rancores
A vida no crime não é feita de glória
É um roteiro de terror, sem final feliz na história
A liberdade que ele busca, está do outro lado
O muro da favela separa o seu destino traçado
Ele é o retrato de um sistema falido
Um soldado da guerra que não tem medo de ser abatido
O sonho de criança foi trocado pela mira
E o playground, hoje, é o campo de batalha que inspira
Não tem aula de história, mas a história se repete
Mais um moleque sem escolha que o sistema enlouquece
A glória que ele busca é só pra não ser humilhado
Mas a real vitória é estar vivo e não ser mais um finado
No beco estreito, onde o Sol não toca o chão
Nasceu Aguerrido mais um órfão da Nação
A escola era distante, o livro era caro
O saber da rua, no entanto, veio em disparo
Desde pequeno, a vista era em 3D
De um lado, a fartura que ele nunca ia ter
Do outro, a miséria que o abraçava forte
Ensinando a viver além da própria sorte
O sonho não era ir pra faculdade no centro
Mas garantir que o prato nunca ficasse isento
A fome tem pressa, não sabe esperar
E o caminho mais curto, ele teve que trilhar
O muro da viela pintado de grafite
É a tela fria que a dor da vida admite
Deixou o videogame pela lei do mais forte
Vence quem aguenta, quem tem mais suporte