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Confira a Letra Presídio Municipal

Noel Guarany

Presídio Municipal

A um brete o presídio é igual
Costeando tourada alçada
Cada osco, aspa virada
Com fama no pajonal
Na grade, aquele zum-zum
Índio, branco, ruivo e algum
Mais retinto que poliango
Presos por simples fandango
Culpado mesmo, nenhum

Na sua lógica bronca
Esta prisão já demora
Porque há tantos lá por fora
Bons tentos da mesma lonca
Por que, metidos no ajojo
Se os outros bebem o apojo
Da liberdade sem freio
Aqui, em ronda e pastoreio
Até entristece e dá nojo

O que matou peito a peito
Nenhum remorso denigre
Foi peleando, como um tigre
Se vendo daquele jeito
E aquele ali, contrafeito
Mulato, a barba caprina
No próprio olhar se condena
Não ví que ele cumpre a pena
Pela degola da China

E o quietarrão? Sempre calado
Carão fechado de cumba
Mais sério que catatumba
É o preso que menos fala
Maneado nos pensamentos
Lembra a madrugada fria
Em que, na cama de tentos
Com quatro gritos por prosa
Ao gauchão que o traía
E a dona que ele queria
Matou com raiva gostosa

E os três ladrões de cavalo
Que estampas de gauchões
Indo em curtos intervalos
Do extremo sul às missões
Floriando os pingos alheios
Das tropilhas das estâncias
Têm no peito, em corcoveios
As ganas de um coxilhão
De ir esbanjando as ganâncias
Comemorando as distâncias
Com tragos de um borrachão

Mas este, ladrão de vaca
É mais humilde que os outros
Com fama em lombo de potros
E mais cantor que baitaca
Um dia, caiu no roubo
Por proeza de moço bobo
Pelo prazer da aventura
Cada campereada rara
Peleando com a Lua clara
Laçando com a noite escura

Absolvido, este, agora
Que o promotor apelou
Supõe que já colocou
Um pé do lado de fora
E o seu planito compôs
Já se imagina, contente
Suando, livre, ao Sol quente
Numa lavoura de arroz

E este aqui?
Olhos de cobras, papo de sapo
Batendo com os trinta anos se vendo
E mais uns meses de sobra
Campeão dos mais altos pontos
De um rancor frio, e desalmado
A um pai de família honrado
Matou, no mais, por dez contos

Um leão com cara de fome
Com a bombacha no espinhaço
Com fama de bom no laço
E uns, diz, ques de lobisomem
Entrando os campos por mel
De noite, em desassossegos
Coça as pulgas nos pelegos
De ovelhas do coronel

E o que fez pango em velório
De canha, como uma brasa
E o outro, mais grave assunto
Feriu o dono da casa
Matou de novo o defunto
Pois declarou ao perito
Que era um doutor calabrês
Se vivo fosse o defunto
Lá se ia de pé junto
Porque morria outra vez

E aquele alto, gadelhudo
Com perfil de gavião mouro
Foi sempre tido por touro
Por vaus, por bolicho ou cancha
Num bochincho dos coiceiros
Lanhou chinas e povoeiros
Com a adaga dada de prancha

E o criolito ligeiro
Mesquinho de um safanão
Bueno pra encher chimarrão
Ou recolher no potreiro
No balcão do bolicheiro
Se meteu numa enrascada
Numa noite sonhadora
Com senha a registradora
Dez latas de goiabada

Aguardando a apelação
Esse ali sempre risão
Seu júri foi de alegria
Todo mundo meio ria
Só o Meritíssimo não
E o defensor, buenachão
Com um bom timbre de garganta
Provou que o crime era nada
Tosou toda a matungada
Que havia numa bailanta

Dá uma piedade tremenda
Olhar tanto índio em castigo
Cavacos de cerne antigo
Que escorou em paz e contenda
Da Pátria, a posse tranqüila
Por algo se vieram vindo
De tombo em tombo caindo
Até o presídio da vila

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