Na minha fala ávida
Eu sei, confesso
Eu sou um pouco ácida
Sim
Mas não é de propósito
Só ela me adoça quando amarga
E não fui filho pródigo
E muito menos prodígio
Escuta o meu sussurro quando digo
Nós não tocamos nesse assunto aqui em casa
Eu sinto falta de ter companhia
Eu sinto falta de me sentir viva
E é sal na ferida
Sal, sal, sal na ferida
Cidade parva, pacata
Me deixa parca de palavra
A solidão a gente lavra
Às vezes me sinto num terrário
Vivendo só com o necessário
Sequer lembrada sou, pra ter adversários
No meu aniversário
Ninguém lembra e eu ainda choro
Não minto
Isso é lição de vida
Isso é lição de vida
É sal na ferida
Sal, sal, sal na ferida
Bicicletas, dodecafonia
Diastema na fotografia
Noite e dia
Dia e noite e dia
No caderno a minha caligrafia
É de sonho e de pó
O destino de um só
Fera de estimação
Ferida na testa, que não cicatriza
Ninguém deixou recordação
Só uma febre que não sara
E uma coriza
Me levaram às cirandas, para dançar só
Minhas mãos já calejadas, segurando o nó
É sal na ferida
(Sal, sal, sal)