No ventre da terra onde a vida se encerra, é tudo preto
Na reza que as almas se abrigam no Amenta, é tudo preto
Dentro da semente a vida recomeça e é tudo preto
Viver debaixo da bota, não, Prefiro morrer desse jeito
Sem caô que a ROTAM cata, mata: Tudo preto!
Lekin se joga, se droga e eles falam que é tudo preto
Descaso, quatrocentos anos de atraso: Tudo perto
E não é sobre errado ou certo, Foda-se que eu vim sem medo
Pipa avoadona mesmo, sempre trabalhei dobrado
Morrer me soou descanso, Kaviungo abriu seus braços
Tá gelado? Porque veio?
Guerra eu vim pro arregaço
Caio, mas caio atirando, Ce também morre arrombado!
Louvei as almas, Saltou do navio e se escondeu na barra da saia de Kayaya
Canudos, Malês, Palmares, Vacina, Chibata: Louvei as almas!
Pedi disposição dobrada, O Tempo ainda é rei e eu sei
Por isso não deitei pra nada
Sonhei com soldados se erguendo no Vale e é tudo preto
Frutos das sementes que os herois regaram e é tudo preto
Dentro da semente a vida recomeça, e é tudo preto
Gerações me ressuscitam para vingar aneis e dedos
O ouro do rio que corta a muralha ilumina a flecha do rei caçador
Mesmo que hoje eu perca essa batalha é certo que a guerra não acabou
Resisto firme desde A'zagaia, dança da luta que a Ginga criou
Mesmo que hoje eu perca essa batalha é certo que a guerra não acabou
Nascido em terras distantes, sem saber o próprio nome (hey, oh)
Pisantes e diamantes, criam na alma a fome (oh, hey)
Na favela escorre sangue, onde o bicho e a bala come (Grr)
Guerras não são o bastante, para silenciar o homem (Grr)
Filho de guerreira Bantu, rebatizado com nome de santo
Ancestral vive na dança, na terra no sangue e no encanto
Na língua, poesia, na fé, engenharia, ciência, na mente e no canto
Tudo preto como a noite e ainda pintam de branco
E essa cor é de Oxalá, Lembá! Lembra?
Nkise, Orixá, pemba, para guiar
Os irmão na travessia, na fria água do mar
No limite dessa vida, queria meu patuá
Deixa a mente voar, pra muito além do horizonte
Do tempo, da vida, da guerra, da ponte
E o pesadelo nessa travessia, quebra a memória da fonte
Guardam tão fundo que poucos em vida se lembram de onde
Meu povo é a base dos Sumérios, inverto critérios
Império em ruínas não, das ruínas um império
Perco o Norte e acho o Sul, esse é meu hemisfério
Na ferida Kavungo Omulu, fé e seus mistérios
Culto da cruz que coloniza é o berço do ateu
Transformar o barro em mundo é o conceito de Deus
Canta no sétimo dia quem trabalhou e colheu
Esperança e sabedoria, do nada ao apogeu
Século vinte-e-um, pandemias e colônias
Na América do Sul, militares do umbral
Mais um ditado comum, morte a quem se oponha
Cruzei o mar azul, vi que isso não é o final
O ouro do rio que corta a muralha ilumina a flecha do rei caçador
Mesmo que hoje eu perca essa batalha é certo que a guerra não acabou
Resisto firme desde A'Zagaia, dança da luta que a Ginga criou
Mesmo que hoje eu perca essa batalha é certo que a guerra não acabou