Fazia uns dez anos que a gente dirigia
Pelas estradas do Brasil um caminhão que ía
Era eu e meu irmão
Sempre na mesma direção
Fosse noite ou fosse dia
Eu por ele, ele por mim
Toda a vida foi assim
Um tocava, outro dormia
Os anos foram passando
O tempo foi mudando
Nós dois envelhecia
Certo dia numa curva
A neblina que se via
Enquanto caía a chuva
Quando lembro me arrepia
O caminhão ficou sem freio
Mas que cenário mais feio
Que passei naquele dia
Eu não pude segurar
E o caminhão foi tombar
Era grande a agonia
O meu irmão tava dormindo
Se deitou sem por o cinto
E da gabina ele saía
Ele foi todo esmagado
Meu pobre irmão coitado
Debaixo da carroceria
Eu sofrendo então chorava
Mais uma alma que levava
A morte gélida e fria
Eu encostei o caminhão
Em respeito a meu irmão
Nunca mais eu dirigia
Quando na curva vou passando
De longe já vou notando
Na lembrança que doía
Uma cruz alí fincada
Na curva daquela estrada
Lembro do meu irmão que morria
Bem baixinho vou rezando
E pra cima vou olhando
Rogando a santa Maria
Aquela cruz vai brilhando
De longe me acompanhando
Parece que ele dizia
Meu irmão tô te cuidando
Daqui de cima te guiando
De um jeito eu sentia
Minha hora foi se aproximando
O coração foi parando
A vista se escurecia
Quando no céu eu fui chegando
Meu irmão tava esperando
A porta ele abria
Beleza igual não tinha visto
Eu abracei Jesus Cristo
Que alegre me recebia
Tudo o que ficou aqui
Aos poucos foi se destruir
Só a fé que restaria
Duas almas foram primeiro
Dois irmãos caminhoneiros
Que no céu agora vão fazer moradia