Lá no rancho do pé da serra
Vi a donzela mais bela
Tava tirando leite na marra
E eu, Xiko Jeca, de olho nela!
Peguei meu chapéu de palha
E um buquê de mamona!
Disse: Moça, case comigo
Que te faço minha dona!
Ô trem bão, ô coisa danada
Xiko Jeca é puro mato e gargalhada!
De presente levei um urubu
Pra sogra que vive fazendo fu-fu!
Levei também uma dentadura
Pra ela parar de reclamar
E um penico bem pintado
Pra não sair mais pra mijar!
A donzela riu que só vendo
Disse: Homem, tu é sem juízo!
Mas quando dei o urubu
Ela caiu foi no riso!
Hoje tamo junto na roça
Ela cozinha, eu toco viola
E a sogra com o urubu
Vira e mexe, ainda me xingola!
Ô trem bão, ô coisa danada
Xiko Jeca é sorte e palhaçada!
De penico e dentadura, fiz sucesso
Na roça o amor é simples e sem excesso!
Lá na festa da colheita eu vi a donzela
Requebrando a cinturinha, ô coisa bela!
Meu coração bateu que nem zabumba
Quase tropeço no pé de jaca e caio na rumba!
Ô Jeca Tatu danado, que presente é esse, fi?
Deu um urubu pra sogra e ainda sorri!
Dentadura e penico, foi pra completar
Disse: Sogra, se não gostar, pode voar!
A moça riu tanto que perdeu o fôlego
Falou: Homem, tu é doido, mas tem um ego!
Respondi sorrindo, com meu chapéu na mão
Sou Xiko Jeca Tatu, o rei do coração!
Ô Jeca Tatu danado, que figura é tu!
Deu urubu pra sogra, e ainda fez uuh!
Penico prateado, dentadura rosa
Na roça é assim, o amor é uma prosa!
Hoje tamo junto, dançando forrozim
A sogra grita lá do quarto: Deixa eu dormir!
Mas o urubu canta junto na varanda
E eu beijo minha flor, na luz da Lua branda!
Ô Jeca Tatu, cabra esperto demais
Dá presente diferente, mas o amor é veraz!
Na roça tem risada, tem amor e tem bagunça
Quem não rir dessa história é porque é da onça!